sexta-feira, 20 de maio de 2011

No Surprises

Vamos começar com duas bandas que, apesar de terem se tornado extremamente populares, começaram como indie, e que são as que conheço mais a fundo. Primeiro a mais popular de todas, o Radiohead. Alguns talvez achem cliché, mas é um bom exemplo do que indie queria dizer nos anos 90. Acredito que todo mundo que chega aqui já conhece bastante sobre a banda, então vou passar a citar algumas características que acredito torná-la especial, ao menos que tenha sido no seu princípio.


A primeira e mais facilmente notável é a temática. Canções tristes, que versam primariamente sobre decepções e que fazem com que qualquer jovem do pós-guerra fria no qual restou um pouco de sentimentalismo se identifique. Como What do you care when the other men are far far better? em "Thinking About You", And if I could be who you wanted all the time? em "Fake Plastic Trees" ou I keep falling over, I keep passing out when I see a face like you em "Black Star". Os demais as consideram depressivas demais, e outro dia vi uma gurizada dizer que era emo. É, tá ficando fora de moda ser sentimental, fazer o quê. Por isso que indie de verdade não segue modas, jamais.


A segunda é a maestria musical. Os discos "Pablo Honey" e "The Bends" se destacam pelos seus acordes com nona e quarta. Em "Paranoid Android", você encontra compassos 7/4 e trechos nos modos dório dórico (presente também em "Karma Police") e frígio (uma análise completa aqui). Ou o que dizer das guitarras futuristas em arpejo de "Let Down" e do acorde das cordas à Schoenberg com que começa "How To Disappear Completely"? O grupo também tem influência assumida de compositores eruditos contemporâneos, como Penderecki e Messiaen.


Radiohead tem uma característica comum de outras bandas da época, que é a presença de gênios. Ambos como compositores; Yorke como letrista e polêmico/marketeiro, não se esquecendo de sua belíssima voz, e Johnny Greenwood como músico e arranjador, que consegue ser um virtuose sem exibicionismo.

Quanto aos álbuns, "Pablo Honey" (1993) tem algumas músicas que ainda demonstram certa imaturidade do grupo (eu particularmente nunca fui muito fã de "Creep", e o clipe do b-side "Pop Is Dead", que descobri hoje, é particularmente hilário), mas são notoriamente belas "Stop Whispering" (que evidencia a influência de U2), "Thinking About You" e "Lurgee". As demais de "Ripcord" em diante também são boas.


"The Bends" (1995), é considerado o melhor disco da banda por muitos fãs, dentre eles Bruno Medina dos Hermanos (não achei a referência mas lembro de ter lido isso). Dele vem a mais conhecida ("Fake Plastic Trees") e a minha preferida ("High and Dry", que aliás tem um clipe muito legal). Cheio de guitarras explosivas, aqui começam a aparecer as dissonâncias características dos arranjos do grupo; vide "Just", "My Iron Lung" e "Street Spirit (Fade Out)". Destaque para a beleza de "(Nice Dream)", "Bulletproof...I wish I was" e "Sulk".


O mais bem-aclamado pela crítica, com certeza, é "OK Computer" (1997). Particularmente, gosto muito de "Let Down", "No Surprises" e "The Tourist", e admito já ter ouvido "Paranoid Android" mais de 10 vezes seguidas. Aqui a temática da letra é mais voltada para questões da sociedade pós-moderna (vide o título e em especial a letra de "Fitter Happier"), mas cortante como sempre.


O último da década foi "Kid A" (2000), que marca o início do flerte do grupo com a eletrônica. Apesar das letras um tanto quanto dadaístas, aqui fica evidente o domínio sobre harmonia; vide "Kid A", "How To Disappear Completely" e "Motion Picture Soundtrack", a mais fossa do grupo disparada. Certo conhecido dizia ser impossível tirar de ouvido qualquer música do disco; é mentira, dá pra tirar facinho o baixo de "The National Anthem". Destaque também para "Optimistic", descompasso entre bateria e demais instrumentos em "In Limbo" e compasso 5/4 em "Morning Bell".


Na década passada, no entanto, acho que os discos não demonstraram mais tanta genialidade, embora eu goste um pouco do "Hail To The Thief" (2003) e de algumas do "In Rainbows" (2007). Como diz Ederval Fernandes, é o fruto de se ficar popular, rico e feliz. Admito não ter ouvido ainda "The King of Limbs" (2011), mas sem muitas esperanças. Então melhor não comentar sobre, e ficar com uma boa lembrança na memória.

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