domingo, 5 de junho de 2011

indie bozza

Semana passada não sobrou tempo pra escrever. Apareceram um monte de ideias, então vou deixar pra babar o ovo do Blur (é, estraguei a surpresa) depois.

Hoje o foco é no disco "Into the Sun" (1998), de Sean Lennon, o caçula de John e filho de Yoko. Antes disso o garoto teve participação em muita coisa, por vezes ainda criança, principalmente em discos da mãe (vide aqui). Típico de filho de artista. Em "Into the Sun", no entanto, Sean mostra que seu talento de multi-artista (plástico, músico, cineasta) e multi-instrumentista (boa parte do instrumental é por conta dele e da namorada à época, Yuka Honda), embora não beire o genial, é de excelente qualidade.


Uma das características mais fortes do disco, a meu ver, é a fusão de influências do pai (nas letras de forma mais evidente), jazz, bossa nova (sim! ele é um admirador declarado do gênero) e metal (os baixos distorcidos em "mystery juice" e "home" são uma delícia; em "Dream", do EP seguinte, a influência é mais explícita). Tudo isso sem perder o quê de indie.

(Uma das minhas teorias de por que o indie dos 90 era tão bom é justamente isso: não se ater ao indie rock e, ao mesmo tempo, se ater ao indie rock. Outras bandas que notoriamente souberam aplicar essa ideia de forma fantástica foram o Wilco com seu alt-country e, recentemente no Brasil, o Holger e o indie axé.)


A bossa está presente em "into the sun", "bathtub" (muito boa), "one night" (que lembra João Gilberto), "two fine lovers" (tipo Vanessa da Mata no início da carreira) e "breeze", totalizando quase metade do disco. "photosynthesis" é das minhas preferidas, um jazz latino com compasso 6/4, metais e contrabaixo acústico. O jazz continua em "wasted" e "Sean's theme", esse em 3/8 e terminando com uma homenagem a John e uma faixa escondida de percussão afro. Tem também country-brincadeira em "part one of the cowboy trilogy". (Sim, os títulos são em minúsculas.)


De rock mesmo sobra "mystery juice", "home" (o único single do disco e provavelmente a única conhecida dos indies "ignorantes", como diz Tiago Guiness), "queue" (a mais Beatles) e "spaceship", minha preferida à época que conheci.


Enfim, o disco não tem nenhum hit, mas como um todo é muito bom. Afinal, essa era a prioridade do indie dos anos 90.